quinta-feira, 26 de março de 2015

Testemunho

Nunca escrevi sobre isso, apesar de já ter falado publicamente a respeito. Minha intenção não é atacar católicos, pois todos têm o direito de crer no que querem. Tampouco escrevo para fazer apologia a qualquer outra igreja, mesmo à minha. Quero apenas revelar o que me fez reavaliar minha fé católica há 27 anos atrás. Talvez ajude alguns na mesma situação.
Cresci como todo bom católico. Meus pais me levaram para batizar depois de meses de nascido. Meu irmão mais velho iniciou e terminou seus estudos em colégios católicos. O orçamento da família já não permitiu que eu fizesse o mesmo. Quando íamos à missa, eu me sentia um pária quando meu irmão ia à frente tomar a hóstia mas eu não podia, pois não tinha feito a primeira comunhão.
Mas isso não me impediu de assistir às missas de nossa paróquia aos domingos, usar crucifixo no pescoço, imagem da santa na carteira, fazer o sinal da cruz todas as vezes que passava na frente da igreja e em qualquer outra ocasião que pedisse um pouco mais de sorte e proteção, por boa medida. Ah, e claro, não esquecendo das romarias que meus pais faziam quase que anualmente à Aparecida do Norte.
Aos meus 13 anos, uma reviravolta aconteceu em nossa família. A história é longa, mas a conclusão foi que meu pai traiu minha mãe, acabou saindo de casa, e o nosso mundo relativamente tranquilo veio abaixo. Entre noites de choro e vontade de morrer, vinham as perguntas: Por quê? O que fizemos para merecer isso? O que foi feito de nossas orações e devoções e velas acendidas?
Tudo que o padre nos dizia era que “Jesus também sofreu, quem somos nós para reclamar?” Além de não ajudar, ainda nos fazia sentir mal de ter perguntado.
Aí alguém me ensinou a fazer algo pela primeira vez na vida: abrir a Bíblia e entendê-la.
Minha experiência com católicos devotos é que são muito sinceros, muitas vezes mais que religiosos evangélicos e de tantas outras religiões. Meu pai era um, e toda a família seguia nos seus passos.
Mas quando a desgraça bateu à nossa porta, e toda aquela devoção e sinceridade religiosa falhou em evitar o mal e em nos ajudar a lidar com ele, então fomos em busca de outra ajuda. Meu irmão mais velho foi convidado à uma igreja “de crente” (assim nós católicos nos referíamos a todas as outras igrejas), e um mês depois ele estava tão entusiasmado que eu o acompanhei pela primeira vez.
O impacto foi imediato. Em vez da religiosidade e rituais incompreensíveis aos que estava acostumado, encontrei pessoas que pareciam genuínas em seu trabalho, confiantes e com um brilho no rosto que nunca tinha visto. Uma hora e pouco ali presente foi suficiente para eu sair com esperança renovada, mais leve, e com certeza de que as coisas iriam melhorar. Eu nunca havia sentido isso em uma missa.
Porém o que mais abriu a minha mente foi como eles incentivavam a leitura e a compreensão da Bíblia. Nós tínhamos a Bíblia em casa, como todo bom católico, na estante, aberta no Salmo 91 para trazer boas “vibrações”. Obviamente não estava funcionando.
A Bíblia para nós católicos era mais como um objeto sagrado, suposto a ser tratado como aquela santa de quase meio metro que meu pai tinha na parede da sua empresa: você olha, respeita, espera que lhe traga boa sorte, mas não entende muito como funciona. O católico de modo geral não é incentivado a ler a Bíblia. Quando íamos à missa, a liturgia já estava pronta num papel que todos liam; rezas e repetições que eu nunca acertava a hora certa de falar em voz alta com todo mundo.
Eu não sabia, na altura, que muitas de nossas crenças católicas estavam em total desacordo com a Bíblia. Aqui vão apenas algumas como exemplo:
1. Maria foi virgem só até Jesus nascer, depois teve outros filhos biológicos: Marcos 6:3
2. Fazer e ter imagens de escultura em veneração à santos ou ao próprio Jesus quebra os dois primeiros dos Dez Mandamentos: Êxodo 20:2-5
3. Jesus é o único Caminho até o Pai, não os santos e nem Maria: João 14:6.
4. Somente Jesus tem poder de atender orações, não os santos: João 14:14.
5. Jesus proíbe chamar alguém de pai (papa) em sentido religioso: Mateus 23:9
6. O bispo DEVE ser casado, contrário ao que se pratica na Igreja Católica: 1 Timóteo 3:2
7. O Vaticano diz que Pedro foi o primeiro papa, a “pedra da igreja”, mas ele mesmo se identificou apenas como presbítero, como outros discípulos: 1 Pedro 5:1; Jesus é a única pedra fundamental, e não Pedro: 1 Coríntios 3:11
8. O Vaticano diz que um papa é “infalível” quando fala sobre assuntos espirituais, mas o próprio Pedro foi repreendido diante de várias pessoas por estar agindo errado: Gálatas 2:14
9. O Vaticano proibiu a leitura bíblica dos seus fieis, sendo que Jesus ordenou que a Bíblia seja examinada: João 5:39
10. A salvação da alma é pela fé que se manifesta em obras e não só por obras: Efésios 2:8,9
11. Na Bíblia, todos bebem do cálice na ceia (eucaristia), mas na missa só o padre pode fazê-lo: Mateus 26:26,27
12. Para se batizar, a pessoa deve crer primeiro, portanto bebês não qualificam: Marcos 16:16
13. Após a morte vem o juízo, não purgatório. Por isso não há razão de rezar pelos mortos: Hebreus 9:27 e Lucas 16:20-31
Mas a lista é longa demais para este blog. Martinho Lutero que o diga.
Sabe aquele feeling que você sente quando descobre que foi enganado? Multiplique isso por cem e você terá ideia de como me senti. Talvez você mesmo, amigo católico, esteja sentindo assim aí agora, só de ler esta lista acima — que dirá quando você for consultar os versículos na sua própria Bíblia, mesmo católica.
Como eu poderia continuar sendo enganado? E meus pais, não sabiam disso? E os milhões de católicos no mundo nunca ouviram isso? Como isso é possível? O que eu deveria fazer agora?
As perguntas eram muitas. A raiva era grande. Tanta, que meu irmão não aguentou e fez justiça com as próprias mãos — literalmente.
As pessoas reagem de maneiras diferentes à verdade. Alguns não querem aceitar que aquilo que creram a vida toda, que seus pais também creram, e tantos outros creem, esteja errado. Admitir isso dói muito. Para algumas pessoas, a possibilidade nem entra em suas cabeças. Não conseguem processar a informação de forma racional e reagem emotivamente: “Não, não acredito não. Por que você tem que atacar a minha religião?” O apóstolo Paulo disse a essas pessoas:
Tornei-me, porventura, vosso inimigo, por vos dizer a verdade? Gálatas 4.16
Às vezes a maneira mais rápida de fazer um inimigo é dizer a verdade.
Felizmente, outros reagem de forma contrária: amam quem lhes disse a verdade e se revoltam contra a mentira que acreditaram a vida toda. Foi isso o que aconteceu comigo, e mais ainda com meu irmão.
Diante daquela bomba atômica que fez desmoronar a nossa fé católica, ele não conseguiu se conter. Nós trabalhávamos na empresa de nosso pai, e nossa mesa de trabalho ficava a apenas alguns passos da imagem da Senhora Aparecida, de quem ele era devoto. Fixa no alto da parede, trabalhávamos sob os olhos (que agora descobrimos não viam nada) da estátua de quase meio metro de altura.
Não sei exatamente o que se passava na cabeça do meu irmão, mas creio que de repente, tudo veio à tona para ele. Os anos que estudou em colégios de freiras, o catecismo que fez, a primeira comunhão, os terços que rezou, as missas, as romarias… e apesar de toda aquela devoção, a tragédia ainda invadiu nossa família. Eu estava com raiva, mas ele muito mais.
Num daqueles dias, durante o break do café, quando todos saíram da oficina e meu pai estava ausente visitando clientes, meu irmão decidiu fazer justiça com as próprias mãos: pegou uma escada, subiu até onde estava a santa, colocou-a debaixo do braço e desceu. Antes que eu tivesse tempo de lhe perguntar, “O que você está fazendo?” — ele, uma mão segurando a cabeça da estátua e a outra os pés, levantou-a acima da cabeça e a jogou com força no chão! Pedaços de gesso para todos os lados e eu com a cara de quem tinha visto um fantasma.
Dentro de mim, uma mistura de prazer e medo ao mesmo tempo: “Isso mesmo, vamos acabar com essa farsa!” “Ai meu Deus, como vamos explicar isso para o pai?”
Como era de se esperar, meu pai reagiu emocionalmente. Em vez de querer uma explicação, exigiu como punição que meu irmão comprasse outra do próprio bolso. Mas como o bolso dele não estava muito cheio, só conseguiu comprar uma do tamanho de um palmo. Insatisfeito, lá foi meu pai de novo até a Aparecida do Norte e comprou outra estátua, desta vez maior que a anterior…
Passariam ainda mais sete anos até meu pai um dia despertar para a verdade e decidir fazer o mesmo com a nova estátua. Foi quando seus olhos se abriram e ele, também, conheceu a Palavra de Deus.
Essa experiência me ensinou duas coisas:
1. As pessoas estão mais apegadas à sua religião do que a Deus. A religião cega as pessoas. Conhecer a Palavra de Deus lhes abre os olhos. O problema é quando os cegos acham que veem. Resistem a verdade até a morte. Veja o que Jesus falou sobre eles em João 9:39-41
2. O risco de insulto é o preço da verdade. O que faremos com esta verdade que está oculta aos olhos de milhões de católicos no mundo? Devemos guardá-la para não ofendê-los? Devemos ser politicamente corretos? Deixá-los passar para a eternidade confiando nas velas, nas indulgências, nos santos e nas missas para tirar os mortos do purgatório? Há quem defenda essa posição. Já eu não conseguiria dormir em paz nem comparecer diante do trono do meu Deus com boa consciência se fizesse isso.
Dito isso, deixo bem claro: atacar a religião de outras pessoas é errado e ninguém deve fazê-lo. Respeito todos os católicos e pessoas com ou sem religião como seres humanos. Somos gente, antes de mais nada.
Minha mensagem para quem tem a Bíblia como o livro central de sua fé é a seguinte: leia-a. Medite nela. Entenda a Palavra de Deus por si mesmo. Não dependa de terceiros para fazerem isso por você. Confira nas Escrituras o que qualquer papa, pastor, bispo, padre, ou apóstolo diz. Não arrisque sua alma nas mãos de ninguém.
Quanto a mim, diante do que li na Bíblia, a minha inteligência não me permitiu continuar no catolicismo.

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